segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Curtinha, como as do Dorival

para Luciana Garbellini

Não é preciso reinterpretar.
Basta reler, no sentido mais estreito do verbo, e deixar-se invadir pelo “Milagre”. Importante deixar dançar na mente, enquanto se lê, o título – para isso servem os bons títulos.

Milagre(*)

Maurino, Dadá e Zeca,
Embarcaram de manhã
Era quarta-feira santa,
Dia de pescar
E de pescador,

Quarta-feira santa,
Dia de pescador

Se sabe que muda o tempo,
Sabe que o tempo vira,

Aí o tempo virou

Maurino que é de guentar,
guentou,
Dadá que é de labutar,
labutou,
Zeca,
esse nem falou

Era só jogar a rede
e puxar,
a rede

Era só jogar a rede
e puxar,
a rede

Ao fim da leitura em voz alta, acompanhada do título dançante nos neurônios, acrescente uma última estrofe. Estrofe estranha que não tem lugar fixo. Fica pulando daqui pra lá, imiscuindo nos outros versos os seus próprios, compostos de notas com suas durações. Cante.
O problema do homem no mundo não é ser ateu. O problema é não acreditar em milagre.(**)
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(*) “Milagre”, canção de Dorival Caymmi. A repetição e a divisão dos versos aqui apresentadas é ousadia do autor, que espera que Caymmi o perdoe.
(**) “Quem é ateu e viu milagres como eu / sabe que os deuses sem deus / não cessam de brotar”, da canção “Milagres do Povo” de Caetano Veloso.

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