para Luciana Garbellini
Não é preciso reinterpretar.
Basta reler, no sentido mais estreito do verbo, e
deixar-se invadir pelo “Milagre”. Importante deixar dançar na mente, enquanto se
lê, o título – para isso servem os bons títulos.
Milagre(*)
Maurino, Dadá e Zeca,
Embarcaram de manhã
Era quarta-feira santa,
Dia de pescar
E de pescador,
Quarta-feira santa,
Dia de pescador
Se sabe que muda o tempo,
Sabe que o tempo vira,
Aí o tempo virou
Maurino que é de guentar,
guentou,
Dadá que é de labutar,
labutou,
Zeca,
esse nem falou
Era só jogar a rede
e puxar,
a rede
Era só jogar a rede
e puxar,
a rede
Ao fim da leitura em voz alta, acompanhada do título
dançante nos neurônios, acrescente uma última estrofe. Estrofe estranha que não
tem lugar fixo. Fica pulando daqui pra lá, imiscuindo nos outros versos os seus
próprios, compostos de notas com suas durações. Cante.
O problema do homem no mundo não é ser ateu. O
problema é não acreditar em milagre.(**)
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(*) “Milagre”, canção de Dorival Caymmi. A repetição e a divisão dos
versos aqui apresentadas é ousadia do autor, que espera que Caymmi o perdoe.
(**) “Quem é ateu e viu milagres como eu / sabe que os deuses sem deus /
não cessam de brotar”, da canção “Milagres do Povo” de Caetano Veloso.
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